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O mau uso do jornalismo

Se esse Conselho acabar com o desrespeito à profissão, já estará cumprindo um grande serviço ao País

 

No auge das campanhas eleitorais para o próximo pleito nos municípios brasileiros, é possível delinear, de forma bastante clara, quando a imprensa está sendo usada como cabo eleitoral. Isso se explicita em fotos camufladas, manchetes sugestivas, frases soltas, ou, em determinados casos, com menções claras de apoio a certos candidatos. Pelo que se sabe, a Justiça Eleitoral já vem fazendo um arrastão por redações desses jornais, e promete punir com severidade aos que fazem uso da imprensa para promover candidatos.

Nada mais interessante de discutirmos, nessa conjuntura, do que a criação do fortuito Conselho Federal de Jornalismo. O Conselho, em poucos dias de discussão, já foi malhado por muita gente, combatido inclusive por colunistas do Correio do Norte. O que se percebe, até aqui, é que, em sua maioria, a defesa vem partindo dos jornalistas diplomados e o ataque parte dos chamados provisionados (praticantes do jornalismo não formados, que recebem por tempo de serviço, um registro especial no Ministério do Trabalho). O que se coloca como mordaça pelos que combatem a criação do Conselho, não parece ser das cores fortes que buscam pintar o quadro. Parece sim, com discernimento e como precisamos que essa palavra exista nas redações de todo o País. Dizer que a criação do Conselho cheira a ditadura, parece mais defesa de interesses diversos e devemos lembrar que ditadura compreende uma gama de fatores extremamente relativos. Afinal, o que é ditadura? Lembremos que a ditadura foi instaurada no Brasil durante o governo militar e foi resultado de um momento político bastante diverso do atual. Naquela época, os meios de comunicação poderiam somente publicar o que os generais permitiam, muitas vezes precisavam até mentir. Quando o governo Lula fala em criar um Conselho Federal para monitorar a profissão, surgiu entre os jornalistas a esperança de dignidade a uma das profissões mais desrespeitadas nesse País. Hoje, qualquer pessoa (qualquer pessoa mesmo!) pode se dirigir até o Ministério do Trabalho e requerer registro de jornalista. Enquanto que um estudante de jornalismo passa quatro anos na faculdade aprendendo o que é jornalismo, qualquer pessoa que jamais tenha passado em frente a uma faculdade torna-se jornalista em um minuto. Se esse Conselho acabar com esse desrespeito à profissão, já estará cumprindo um grande serviço ao País.

O leitor pode concordar ou discordar do que acaba de ler, mas vale o alerta, nem tudo que se lê ou ouve, nesse caso, merece crédito. É preciso prestar muita atenção e discernir entre interesses e justiça.

 

 

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